N.º 8 (2018): Casa e Trabalho

A casa, encarada como habitáculo é uma entidade física, e nessa perspectiva pode ser entendida como um abrigo. É talvez aí onde se radica o significado mais antigo da casa.Mas a casa tem também um significado sentimental, digamos que poético ou fenomenológico. Miguel Esteves Cardoso numa das suas crónicas do jornal Público intitulada “sobressair em casa” escrevia o seguinte:(...) “ficar em casa ajuda a pensar a nossa casa como um destino, um lugar onde chegamos, que levou muito tempo a atingir”. E ainda: “A casa é um refúgio mesmo para quem quer fugir dela”. Esta abordagem da casa, por parte de MEC, profundamente emotiva, está, no entanto, posta em causa pela dinâmica da sociedade global em que vivemos, porque a casa é um bem cada vez mais volátil e transitório, comparativamente ao que acontecia, por exemplo na primeira metade do século passado. Nas primeiras décadas do século 20 e mesmo até nos anos 50 em Portugal, poderia facilmente acontecer que alguém habitasse num 3º piso de um prédio urbano da cidade e trabalhasse numa loja ou industria no R/C do mesmo prédio. E essa casa habitava-se amiúde toda a vida.